Valor da amizade
Severino Coelho Viana |
Por Severino
Coelho Viana
A amizade é um sentimento de escolha, que distingue uma
pessoa entre as demais, que se dedica atenção e carinho especial. Este
sentimento de interesse e respeito mútuo, afastando-se os interesses mesquinhos,
constitui uma amizade, que não pode ser passageira, mas deve ter característica
de permanência que vai constituindo-se num elo de fidelidade.
O amigo é um ser de valor inestimável, indiscutível, incalculável. Amigo é aquele
objeto precioso que está preservado, guardado, canonizado pela via espiritual.
Mas este amigo tem que ser especial e
saiba retribuir com a mesma atenção de
reciprocidade. Não pode ser amiga aquela pessoa que de tudo quer tirar
vantagem. Uma amizade compartilhada nasce da palavra sincera. Nunca tenta
desfazer-se do amigo por um puro sentimento de inveja ou falta de
reconhecimento do valor pessoal de outrem. Amigo verdadeiro é aquele que de
tudo tem um pouco, de médico, de professor, de conselheiro, de economista, de ouvinte,
de estrategista, de humorista, de músico e às vezes até de psicólogo... Mas
algo que ele sabe mais, aperfeiçoa a cada dia e nunca perde a prática, é ser
AMIGO... e de verdade!
Esta história transcrita abaixo é
desafiadora para avaliar o que é possível traduzir por um forte sentimento de
amizade.
“Numa aldeia
vietnamita, um orfanato dirigido por um grupo de missionários foi atingido por
um bombardeio. Os missionários e duas crianças tiveram morte imediata e as
restantes ficaram gravemente feridas. Entre elas, uma menina de oito anos,
considerada em pior estado. Era necessário chamar ajuda por uma rádio e ao fim
de algum tempo, um médico e uma enfermeira da Marinha dos EUA chegaram ao
local. Teriam que agir rapidamente, senão a menina morreria devido aos
traumatismos e à perda de sangue. Era urgente fazer uma transfusão, mas como?
Após alguns testes rápidos, puderam perceber que ninguém ali possuía o sangue
preciso. Reuniram então as crianças e entre gesticulações, arranhadas no
idioma, tentavam explicar o que estava acontecendo e que precisariam de um
voluntário para doar o sangue. Depois de um silêncio sepulcral, viu-se um braço
magrinho levantar-se timidamente. Era um menino chamado Heng. Ele foi preparado
às pressas ao lado da menina agonizante e espetaram-lhe uma agulha na veia. Ele
se mantinha quietinho e com o olhar fixo no teto. Passado algum momento, ele
deixou escapar um soluço e tapou o rosto com a mão que estava livre. O médico
lhe perguntou se estava doendo e ele negou. Mas não demorou muito a soluçar de
novo, contendo as lágrimas. O médico ficou preocupado e voltou a lhe perguntar,
e novamente ele negou. Os soluços ocasionais deram lugar a um choro silencioso,
mas ininterrupto. Era evidente que alguma coisa estava errada. Foi então que
apareceu uma enfermeira vietnamita vinda de outra aldeia. O médico pediu então
que ela procurasse saber o que estava acontecendo com Heng. Com a voz meiga e
doce, a enfermeira foi conversando com ele e explicando algumas coisas, e o
rostinho do menino foi se aliviando... minutos depois ele estava novamente
tranquilo. A enfermeira então explicou aos americanos: "Ele pensou que ia
morrer; não tinha entendido direito o que vocês disseram e estava achando que
ia ter que dar todo o seu sangue para a menina não morrer." O médico se
aproximou dele e com a ajuda da enfermeira perguntou: - "Mas se era assim,
porque então você se ofereceu a doar seu sangue?" E o menino respondeu
simplesmente: - "Ela é minha amiga".
A fábula da
convivência é outro exemplo dignificante que eleva o nível da amizade
verdadeira como uma questão de arrependimento quando se erra e de solidariedade
humana nos atos corretivos da vida: “durante uma era glacial, muito remota,
quando parte do globo terrestre esteve coberto por densa camada de gelo, muitos
animais não resistiram ao frio intenso e morreram indefesos, por não se
adaptarem às condições do clima hostil. Foi então que uma grande manada de
porcos-espinhos, numa tentativa de se proteger e sobreviver, começou a se unir,
a juntar-se mais e mais. Assim, cada um podia sentir o calor do corpo do outro.
E todos juntos, bem unidos, agasalhavam-se mutuamente, aqueciam-se, enfrentando
por mais tempo aquele inverno tenebroso. Porém, vida ingrata, os espinhos de
cada um começaram a ferir os companheiros mais próximos, justamente aqueles que
forneciam mais calor, aquele calor vital, questão de vida ou morte. E
afastaram-se, feridos, magoados, sofridos. Dispersaram-se, por não suportarem
mais tempo os espinhos de seus semelhantes. Doíam muito ... Mas essa não foi a
melhor solução: afastados, logo começaram a morrer congelados. Os que não
morreram voltaram a se aproximar pouco a pouco, com jeito, com precauções, de
tal forma que, unidos, cada qual conservava uma certa distância do outro,
mínima ,mas o suficiente para conviver sem ferir, para sobreviver sem magoar,
sem causar danos recíprocos. Assim suportaram-se, resistindo à longa era
glacial.Sobreviveram”!
A amizade verdadeira não vê as coisas com pequenez nem olha
somente de um lado quando é favorecido. As mãos estão dadas nas tempestades,
juntas nos ventos amenos; sorrisos são festivos nos momentos da vitória e
abraços fraternos nas horas de tristeza; palavras ditas com alegria não somente
para agradar, mas ditas com sinceridades pela força do argumento nos caminhos
dos desacertos; as conquistas são comemoradas com o sorriso largo na face e não
com os sussurros expostos de maus pressentimentos.
A música da amizade verdadeira não tem autor da composição,
pois é um hino decifrado nas linhas do coração.
Só cante esta música quando se valoriza a amizade
convivendo no dia a dia com a moral tirada dos dois exemplos acima mencionados.
Somente assim poderá gritar aos quatro ventos; Eu sou um amigo de verdade!
Caso contrário, mude o seu estilo de vida.
João Pessoa, 07
de julho de 2015.
* Escritor pombalense e Promotor de Justiça em João Pessoa PB.
scoelho@globo.com
Valor da amizade
Reviewed by Clemildo Brunet
on
7/07/2015 09:51:00 AM
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