20 ANOS DEPOIS: O QUE UM DIA FOI NOVO HOJE É VELHO
Jerdivan Nóbrega de Araújo |
Jerdivan Nóbrega de Araújo*
Hoje
resolvi abrir espaço no meu arquivo físico: revirei caixas e gavetas, juntei
tudo em um único local: analisei, separei, rasguei e queimei.
E
quantos pepeis a separar!
Em
20 anos (puliquei o primeiro livro em outubro de 1997), foram mais de 300
textos escritos e publicados em blogs e jornais da Paraíba e do Rio Grande do
Norte. Livros foram oito, além da revisão critica que fiz com Verneck de “O
velho Arraial de Piranhas: Pombal”, e dois CDs. Apresentação de livros de
outros escritores pombalenses foram diversos. Livros que viraram monografias, e
até foram estudados por turmas de direito da PUC, como foi ocaso de O Crime da Rua da Cruz.
até foram estudados por turmas de direito da PUC, como foi ocaso de O Crime da Rua da Cruz.
Eu
fui o primeiro a escrever a história do povo de Pombal do ponto de vista dos
seus moradores mais simples: os “sem eira nem beira”. Foram muitos os
loucos, bêbados e asilados que passaram pelos meus textos, e que ganharam vida
nova pela minha “pena”.
Eu
trouxe de volta as ruas de Pombal, não só essa gente da década de 1960 e 1970,
mas também recriei os cenários já demolidos das nossas ruas, falei das festas
populares como o São Pedro da Rua dos Pereiros e os bons forrós da Rua do Fogo,
Rua da Cruz e Cassete Armado.
Eu trouxe de volta à memória do nosso povo as raparigas e os chefes de cabarés do Rói Couro de Pombal, e sempre com muito respeito às memórias de uma gente que em vida já sofrera o seu quinhão.
Trouxe
para os jovens inquietos os nomes de pessoas que num passado recente ajudaram a
moldar a Pombal de hoje, a exemplo dos professores Arlindo e Guimarães, Anita,
Carmita, Dona Marinheira e tantos outros e outras.
Falei dos empreendimentos da nossa época, que deram emprego ao nosso povo, como a “Usina de Seu Paulo”, a sinuca de Pedoca, o Bar Manaíra a “Brasil Oiticica” e a Torrefação Antônio Rocha e na educação o João da Mata e Diocesano.
Solha
com seu filme e Clemildo com o seu Lord Amplificador, já não mais habitavam a
mente do nosso povo, eu fui la e resgatei o seu tempo e os seus oficios nas
ruas da nossa cidade. Coube-me a tarefa de trazer de volta a campo velho São
Cristóvam de Pombal em suas tardes de domingo memoráveis, com os atletas que
foram nossos heróis nas quatro linhas.
Revivi através de textos os bons carnavais na velha SEDE OPERARIA, JOVEM CLUBE e no POMBAL IDEAL CLUB. O carnaval de rua, onde o “Bloco de Sujos, “que não tinha fantasia, saia de noite e de dia” também esteve presente nos meus textos.
Revivi
as matinês do Cine lux, a chegada do Parque Maia e dos circos, e as cheias do
rio Piancó. Como não relembrar os bons piqueniques da “bera do ri” onde o
bandolim de Bideca fazia duetos com as águas que corriam nas sombras das
ingazeiras e Oiticicas da “Roça de Ana”?
Descrevi
os carros e os loucos da nossa época, e falei da Rua de Baixo e seu povo
acompanhando, incrédulo, o homem e sua epopeia em direção à lua. Godor e sua
tropa de jumentos, do homem da cruz, e a Festa do Rosário com seus grupos
folclóricos. O bingo e Zuza Nicácio e muitas outras lembranças que caiam da
minha memória para as teclas do computador foram revisitadas através dos meus
escritos, no que eu chamo de essa gente das ruas de Pombal..
São muitos rascunhos, muitos papéis, e muitos textos. Alguns que nunca foram concluídos e outros que, concluídos, nunca foram publicados. Algumas brochuras de livros publicados e mais três a espera de conclusão e publicação descansam em uma caixa de arquivos. Tá tudo ali esperando a reciclagem, seja do texto ou simplesmente para terminar seus dias como papel velho.
O
tempo vai passando, a gente vai ficando velho e avaliando se tudo valeu a
apena: se valeu a pena abrir mão de uma viagem para usar o dinheiro na
publicação de um livro; se valeu a pena às conversas com os mais velhos para
deles arrancar as histórias; e, se valeram as noites acordados pensando em como
montar um livro ou um simples texto. Não tenho essa resposta.
O que posso dizer é que até o ano de 1997, Pombal tinha um ou dois escritores contando as suas histórias, e muitas pessoas com histórias para nos contar, mas, que nunca ousaram se aventurar, colocando as ideias em um livro. Depois de 1997 não teve um ano em que um filho de Pombal não aparecesse na cidade com livro publicado.
Quantas
boas histórias foram surgindo como um “Apanhador No Campo de Centeio”, ouvindo
e contando as aventuras que nos fizeram ri ou chorar?
O
tempo foi passando e de repente estou aqui em meio a tantos rascunhos, tantos
papéis. Cada leitura que eu faço nesse velho baú, lanço-me criticas, e vejo
onde mudaria a forma de contar a mesma história.
Não sei se voltarei a publicar livros: talvez sim. Ou quem sabe, apenas continue escrevendo, encadernado e colocando um ao lado do outro, como as três brochuras que vejo agora, e que estão prontas e acabadas, mas, que não trago em mim a mesma vontade de publicá-los, como antigamente.
Vivemos
outros tempos, e eu não vejo mais nos olhos dos filhos de Pombal a vontade de
reviver a nostalgia dos domingos a tarde, das matinês, dos loucos e das
conversas perdidas nas sombras das algarobas da Pombal do meu tempo.
É
como se linha do tempo encobrisse o passado, embaçando nossos olhos para o que
um dia foi bom.
E
como foi bom ter vivido e contados tantas histórias!
*Escritor
e pesquisador da história de Pombal
20 ANOS DEPOIS: O QUE UM DIA FOI NOVO HOJE É VELHO
Reviewed by Clemildo Brunet
on
1/10/2017 02:51:00 PM
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