Esperando a chuva
Onaldo Queiroga |
Onaldo
Queiroga*
A estiagem há tempo que faz morada no
imenso sertão nordestino. Ela impiedosamente seduz o sol para bem perto chão,
bebendo a água de açudes e barragens. Parece que tem um sol para cada ser
vivente desse mundo sertanejo.
Neste 2018 após o período de chuva, que
sempre ocorre no início do ano, o sertão após a chegada dos “Bros”, ou seja,
setembro, outubro, novembro e dezembro, é invadido novamente pela causticante
seca. Já é enorme a preocupação com o abastecimento d’água, pois o céu azul,
sem qualquer presença de nuvens impõe ao sertão as dores e sofrimentos ante a
estiagem que tanto maltrata.
O calor intenso devora a açudagem e as
plantações, e como uma lâmina escaldante espalha vestígios que esmorecem a esperança,
transformando o verde num tempo de cinzentos olhares incrédulos. São anos e
anos, dias e noites, onde com o terço na mão o sertanejo clama por chuva para
espantar o incandescente sol e o vento cortante da inclemente aridez.
Sem chuva, com fome e sede, o sertanejo
da rede balança o desânimo. Menino chora, mulher reclama e um cachorro de olhar
piedoso dorme debaixo da mesa. Da janela, se ver uma vaca esquelética a espera
da morte chegar. Tempo de miséria, de tristeza, mas acima de tudo de um povo que
nunca esmorece e, com sua fé inquebrantável, de joelho sobre o chão, reza com a
certeza de que do céu a água cairá, molhando o terreiro, fazendo as correntezas
musicar dias melhores.
Quero chuva, quero meu sertão com o
verde das lavouras, dos pastos e do sorriso no rosto de cada sertanejo. Quero
chuva com relâmpagos rasgando os céus, acompanhados dos trovões. Quero chuva
para ver o caboclo no amanhecer de enxada na mão sair para espalhar as sementes
de um novo tempo. Que Deus nos ouça e mande chuva e fartura para o nosso
Nordeste!
*Escritor
pombalense e Juiz de Direito da 5ª Vara Cível em João Pessoa - PB
onaldorqueiroga@gmail.com
Esperando a chuva
Reviewed by Clemildo Brunet
on
11/16/2018 10:50:00 AM
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