A trilogia dos Poderes Dilacerantes
No artigo anterior, “o homem poderoso é o que tem poderes sobre
si mesmo”, pensamento de Sêneca, eu demostrava minha preocupação com a fala do
Presidente Bolsonaro na abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações
Unidas. Confesso que esperava, muito vagamente, pela possibilidade que o recado
do Bolsonaro fosse de caráter conciliatório pelo muito que se disse durante as
preparações do encontro dos povos na ONU.
Não que eu tenha errado na minha previsão, já sabia de antemão,
conhecendo a forma desastrosa que ele tem se comportado quando solicitado a
expressar seu ponto de vista a respeito de temas, principalmente, quando
envolve o Estado brasileiro e sua soberania. Infelizmente Bolsonaro foi
extremamente rançoso, nada palatável nas palavras ditas em plenário.
Muitas pessoas ainda esperavam um novo Presidente depois da
quarta cirurgia, quando da tentativa de assassinato e, em que ele foi vítima,
ainda se encontrava convalescendo, portanto, não restabelecido totalmente,
fisicamente. O presidente Emmanuel Macron, França, se apresentou anteriormente
a abertura oficial, quando o tema era o clima e o meio ambiente, voltando a
insistir que a Amazônia é um bem coletivo em face de sua importância na
manutenção do clima das Nações.
Quando o Bolsonaro começou a fazer a defesa do seu projeto de
Governo, parecia que ele estava falando para uma plateia domestica, prestando
conta aos seus admiradores virtuais e alicerçando campanha para 2022. Revestido
do maniqueísmo, pertinente aos últimos governos brasileiros, ele que tanto
condena o ideologismo, foi mais pragmático que seus antecessores, quando nós
somos os bons e eles são os maus, uma retórica sem consistência de
convencimento, nem mesmo o local se prestava para tratar de divergências
políticas internas.
Numa deselegância total ao provocar, como beligerante, atacou os
europeus, sul americanos, de corrente política divergente da sua, asiáticos e
indianos, até nossos índios foram defenestrados e colocados sob suspeição no
trato com suas reservas florestais, entrou na seara da ideologia, comunismo,
socialismo e muitos outros ismos pela frente. Sou da opinião que roupa suja se
lava em casa e o ambiente era impróprio para lançar farpas sobre a humanidade.
Sinceramente não vi onde estava o Presidente valente e herói nas palavras de
muitos admiradores e seguidores. Verifiquei sim, uma figura triste, sem a
confiança dos grandes líderes e a total ausência de independência política.
O resultado da façanha do Bolsonaro foi mostrado numa nova
pesquisa realizada pelo Ibope, divulgada nos últimos dias pelos meios de
comunicação, apresentando mais uma queda da sua popularidade, em declínio pleno,
e apoio ao seu governo. Consequentemente, os números negativos estão em plena
ascensão, prova inconteste que o seu comportamento no cargo, e seus rompantes,
já não lhes dão tanto brilho quanto antes, seus seguidores estão mudando de
concepção e percepção, é o capitão envelhecendo antes do tempo e tendo que
andar com areia no coturno, andar claudicante, e cada vez mais lento.
Não podemos fazer análise das colocações apressadas dos
adversários políticos do Bolsonaro e nem da aprovação imediatista dos seus apoiadores,
temos que ser realistas e ponderados para não incorrermos no risco da
precipitação indesejada. Sabemos, pois, há uma corrida contra o tempo para se
ganhar os primeiros lugares no observatório da caminhada da humanidade em
direção ao apoderamento da preferencia popular em véspera de ano eleitoral e na
Democracia.
O Congresso Nacional aproveita a oportunidade bisonha do
Bolsonaro, no jogo de cintura com os demais Poderes e derruba 18 dos 33 vetos
aposto pelo Presidente em Projeto de Lei (PL) 7.596/17, que criminalizava abuso
de autoridade, os vetos derrubados agora fazem parte da Lei do Abuso de
Autoridade (lei 13.869/2019). Outras medidas fizeram parte do pacote de motivos
para desconfigurar às novas normas e procedimentos que o Ministro Sergio Moro,
Justiça e Segurança Pública, lutava em apoio do combate a criminalidade
generalizada.
Ao mesmo tempo o Presidente do Congresso, Davi Alcolumbre, no
auge da sua petulância, cancela sessão para aprovação da Reforma da Previdência,
ainda na (CCJ) Comissão de Comissão e Justiça, transferindo-a para outra data,
apenas como pretexto para, juntamente com outros Senadores, irem ao STF tomar
satisfação, junto ao Presidente daquele Poder, Dias Toffoli, da autorização
dada pelo Ministro Luís Roberto Barroso, no mandado de busca e apreensão nos
gabinetes do Senador Fernando Bezerra Coelho (MDB/PE) e do seu filho, o
Deputado Federal Fernando Coelho Filho (DEM/PE). Verdadeiro erro de sequência e
abuso de autoridade recorrente.
O Supremo Tribunal Federal (STF), para não se sentir
inferiorizado, numa ação colegiada praticamente aprova tese que pode afetar a
Lava jato, pois sete dos 11 ministros daquela Casa foram favoráveis pela
aprovação que pode levar à anulação de sentenças da Lava Jato, na Justiça
Federal de Curitiba, com efeito retroativo e cujo beneficiário maior é o
presidiário e ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, preso
desde abril de 2018. Como já foi formada maioria a próxima reunião apenas
convalidará o que ficou pendente, claro que alguns penduricalhos serão
acrescidos, como prometera o Presidente da Casa, robustecendo a simbiose dos
devaneios.
Não há dubitativos, as filigranas serão bem formuladas na
linguagem técnica que é sempre peculiar aos doutos, primordialmente, da área
jurídica, nós ficamos embasbacados como acólitos e com a luz da ribalta a nos
cegar, e como cegos ficamos a esmolar piedade dos Poderes dilacerantes.
Genival Torres Dantas
*Poeta, Escritor e
Jornalista
A trilogia dos Poderes Dilacerantes
Reviewed by Clemildo Brunet
on
9/28/2019 05:44:00 AM
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