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A SAGA DOS CARDOSO - OUTRA VEZ...

Ignacio Tavares (Foto)
A escritora e historiadora Maria do Socorro Cardoso Xavier, acaba de publicar uma importante obra que detalha a origem e fixação da família Cardoso no Cariri Cearense. É do nosso conhecimento que os mais antigos da nossa família mantinham um estreito relacionamento com família Cardoso daquela região. Acreditamos, que essa concentração de Cardoso no Cariri Cearense, seja remanescente dos dispersos do litoral paraibano. Essa dispersão aconteceu em dois momentos na história da Família.
A primeira leva deve ter chegado por lá, quando Mauricio de Nassau foi expulso da província de Pernambuco, lá pelos idos de 1654. A segunda dispersão ocorreu quando os irmãos João Ignácio Cardoso D’Arão e Francisco, da mesma forma, pra lá se dirigiram, em 1795, por conta de mais uma perseguição religiosa.
A história registra que Mauricio de Nassau(1604/1679) foi um eficiente administrador da chamada Nova Holanda, depois de conquistar Pernambuco, Alagoas, Ceará, Sergipe e Maranhão de 1637 a 1654. Nessa ocasião milhares de Cristãos Novos desembarcaram no Brasil, mais precisamente na província de Pernambuco.
A sede da província, Recife, era o ponto de atração para milhares de migrantes originários da Europa, em particular de Portugal, entre os quais os Cardoso, que fugiam do alcance dos tentáculos do Tribunal do Santo Ofício, com forte atuação na Espanha e prestes a se estabelecer em Portugal.
A dominação holandesa naquelas principais províncias da região, enquanto durou, foi marcante, posto que, instalou um ambiente de prosperidade econômica, assim como nas artes, nas ciências e na arquitetura. Havia liberdade religiosa, fato este que atraiu milhares cristãos novos que viviam a mercê das perseguições religiosas nos estados católicos da Europa. Sendo a Holanda um país cristão de princípios Lutero/Calvinista, a Igreja Católica não encontrou espaços, na próspera província de Pernambuco, entre outras, sob a dominação holandesa, para por em prática a sua política de imposição religiosa, principalmente, nas comunidades judaicas.
Assim sendo, repito, a família Cardoso, na sua grande parte migrou para província de Pernambuco. A tranqüilidade política e a liberdade religiosa eram tudo que a família precisava para investir com segurança o seu capital, no comercio e na indústria agro-açucareira em franca expansão e ainda professar a sua fé no Deus de Abraão, Isaac e Jacó. Dessa forma, os Cardoso, entre outros Cristãos Novos, ajudaram a construir em Recife a primeira sinagoga do Brasil.
Naquele momento, a província de Pernambuco prosperava sob o domínio holandês. Em pouco tempo, já estava em operação o maior pólo industrial agro-açucareiro do mundo, o que despertou a ira de Portugal e seus aliados. Por isso, a reação de Portugal com o apoio dos nativos, mais ou menos na vizinhança do fim da primeira metade do século XVII, culminou com a expulsão dos holandeses, fato este que deixou a comunidade judaica em polvorosa.
Diante dessa nova situação, a comunidade dos Cardoso não tinha mais como permanecer na cidade de Recife, a não ser aqueles convertidos à fé Cristã. Muitos Cristãos Novos migraram para província da Paraíba, entre os quais, parte da família Cardoso. Outra parte migrou para os Estados Unidos e lá fundou uma povoação que hoje é a cidade de Nova York. Outros migraram para diversas regiões no Brasil, na sua grande parte para região nordeste, de preferência, para lugares recônditos, longe dos olheiros do Tribunal do Santo Ofício, já instalada na cidade de Recife, logo após a debandada dos holandeses. Esta foi a primeira dispersão dos Cardoso.
Maria do Socorro Cardoso, em sua obra, relata que os Cardoso chegaram ao Ceará, mais ou menos na época da primeira dispersão. Aconteceu que em 1732, houve uma investida do Tribunal do Santo Oficio contra os Cardoso residentes na Paraíba, segundo a professora Anita Novinsky. O resultado dessa ação foi à prisão de Ignácio Cardoso, do seu irmão Pedro Cardoso e tantos outros da família.
Ao abjurarem o judaísmo foram libertados e voltaram as suas atividades normais. Novamente, por volta de 1795, segundo a tradição oral da família, os Cardoso foram novamente importunados, por isso mais uma vez ameaçados de serem submetidos ao julgamento, do Tribunal do Santo Ofício, que ainda atuava na região, porem, em estado terminal, por acusações de práticas religiosas judaizantes. Desta vez a acusação partiu de um padre, conforme informações que nos foram repassadas, que nutria uma paixão, não correspondida, por uma jovem muito bonita da família Dizem que esta jovem foi submetida ao julgamento do tribunal e talvez tenha sido a última vítima da sanha inquisição no Brasil. Nada de registros oficiais sobre esse assunto.
Foi aí que entraram em cena os irmãos João Ignácio Cardoso D’Arão e Francisco Ignácio Cardoso D’Arão. Por tudo isso que aconteceu, em represália a ousadia do senhor vigário, aplicaram-lhe uma forte reprimenda, que lhe causou danos irreparáveis e por conta disso, tiveram que sair as pressas dos engenhos Tibiri/Forte Velho.
Mesmo diante desse acontecimento, grande parte da família Cardoso permaneceu no litoral e redondezas entre os quais, Luiz Ignácio Cardoso, Pedro Cardoso Vieira, genitor de Manoel Pedro Cardoso Vieira e tantos outros. Os irmãos João e Francisco, pelo que se sabe, foram os únicos que deixaram a Paraíba em direção ao Cariri Cearense, onde fixaram, por algum tempo. Passaram alguns anos na região, depois decidiram vir pra Paraíba, com destino ao o Vale do Piranhas onde existiam terras boas e abundantes. Fixaram-se no pequeno povoado de Umari dos Seixas e nesta localidade conheceram as Irmãs Catarina Moura Mariz e Isabel Moura Mariz. Casou-se João com Catarina e Francisco com Isabel e vieram morar na vila de Pombal.
Pelas constantes viagens que alguns membros da família faziam para o Ceará, entende-se que nunca deixou de haver contatos entre os familiares residentes na Paraíba e no Ceará. Era comum casamento entre parentes residentes de lá e cá, com rapazes e moças da família Cardoso. Foi o caso de Ana Cardoso de Alencar, filha de João Ignácio Cardoso D’Arão, que se casou com o seu Primo Felix Antônio de Alencar. Serafim Cardoso de Alencar casou-se também com uma prima daquela região, entre tantos outros.
Em 1890, chega a Pombal, o senhor Antônio Cardoso dos Anjos, originário do Cariri Cearense, em busca dos parentes residentes em Pombal. Arruinado, por conta da seca de 1877, veio pedir o apoio da família. Solteiro, foi bem recebido, recebeu terra e morada e em pouco tempo estava integrado à comunidade familiar. Nunca se casou, pois, faleceu no fim dos anos trinta do século passado e por muito tempo ainda se falava no nome de Antônio dos Anjos. Não cheguei a conhecê-lo, mas ouvi muitas vezes, pessoas da família fazerem boas referências a Antônio dos Anjos, pela sua boa índole e obstinação ao trabalho.
O livro de Socorro Cardoso, veio a confirmar, tudo aquilo que a família, em conversas íntimas, repassava para novas gerações. Só temos a lhe agradecer, por este importante trabalho de reconstituição da história de uma família, que viveu, grande parte do tempo, sob o signo do medo e do horror, sem poder revelar a sua verdadeira identidade e origem, por medo da exclusão e da rejeição, por parte de uma comunidade fanaticamente religiosa, segundo os preceitos da cristandade.
Essa obra, de Socorro Cardoso, ao lado do livro "A Saga dos Cristãos Novos na Paraíba", escrito por de Zilma Ferreira Pinto, esclarece de forma clara e objetiva a movimentação da família Cardoso na Paraíba, no Nordeste, em particular no Cariri Cearense, bem como, noutros recantos do Brasil. Feliz da família que tem uma história de resistência pra contar.
Ignácio Tavares.
A SAGA DOS CARDOSO - OUTRA VEZ... A SAGA DOS CARDOSO - OUTRA VEZ... Reviewed by Clemildo Brunet on 8/16/2009 09:23:00 AM Rating: 5

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