O Golpe na República do Paraguai
Eronildo Barbosa |
Eronildo Barbosa*
Quem conhece a história da América Latina e Central sabe muito bem que
golpes de estado não são novidades nessas bandas. As elites que hegemonizam a
política nessas duas regiões não sabem e não querem conviver com o contraditório.
Não conseguem coexistir com ideias que apontem para uma maior participação da
população nas decisões políticas e econômicas dos países. Acham que as
atividades políticas são ações exclusivas deles.
Agem como se o mundo ainda estivesse na segunda metade século XX em que
qualquer coisa era motivo para se derrubar o dirigente de um país democrático. A
história caminha para a construção de novas relações sociais, entretanto,
lamentavelmente, as viúvas dos velhos coronéis da política insistem com suas
ideias moribundas.
Depois de um período de relativa calma no campo das ações golpistas, em
que os inimigos da democracia só tiveram oportunidade de agir com algum sucesso
em Honduras, quando tiraram o Presidente Zelaya, em 2009, iniciativa condenada
pela expressiva maioria dos chefes de estado dessas regiões; mas, agora, voltam
a se manifestar com a fúria dos velhos tempos, embora com um método mais “sofisticado”.
A vítima foi o valente e sofrido povo Paraguaio. Em menos de 32 horas os
Senadores e os Deputados daquele país julgaram, condenaram e destituíram um
Presidente da Republica eleito pelo voto popular. Até o presente momento absolutamente
ninguém entendeu o motivo da saída de Fernando Lugo.
Até o golpista que assumiu no lugar de Fernando Lugo, Frederico Franco, “achou
que o processo foi muito rápido embora amparado pela constituição”, defendeu.
Aliás, os comentaristas políticos brasileiros irmanados com os golpistas, como
Merval Pereira e Eliane Castanhêde, ambos da Rede Globo, justificam o golpe com
os mesmos argumentos de Fernando Franco. “A Constituição foi observada”,
dizem.
A acusação contra Lugo é uma tremenda farsa. O processo fala “em mau
desempenho no exercício da gestão pública”. Não se trata de algo concreto. E muito
genérica a suposta acusação. Mesmo se tivesse uma causa efetiva o Presidente
deveria ter tempo para se defender. Para conhecer o processo. Nem isso foi
permitido.
Bastou os deputados e senadores, com o luxuoso apoio dos bispos católicos
e uma discreta simpatia de parte das forças armadas, para que mais um criminoso
golpe fosse materializado.
Eu desejo estar errado, mas continuo achando que não se trata de um caso
isolado. É bom lembrarmos - da teoria do dominó ou do chamado elo mais fraco da
cadeia - estudos apreciados pela direita nos anos sessenta. Essas ideias podem ainda
estar presentes nas mentes dos golpistas daqui e dos seus chefes nos Estados
Unidos da América.
O golpe de Estado no Paraguai precisa ser visto em toda sua extensão. Ele
pode ser parte de um movimento maior com o objetivo de impedir que os países
dessas regiões conquistem espaços políticos e econômicos com relativa autonomia
da velha burguesia e de parte dos militares antenados com os valores do século
passado.
Preocupa-me, embora reconheça e respeite a autodeterminação dos povos, o
método adotado. Foi tudo feito dentro da ordem burguesa. Até a Santa Igreja
Católica foi convidada para benzer o nefasto golpe.
Por outro lado, percebi que há uma disposição de parte importante dos
Chefes de Estados das duas regiões de condenar com veemência esse golpe. Isso é
muito importante. É uma coisa também nova.
Nenhum país que ficar isolado. As ações firmes adotadas no plano da
diplomacia pelos principais dirigentes políticos da América Latina, principalmente
por meio da União das Nações Sul-Americanas- UNASUL - podem servir não só como
instrumento para desmoralizar os
golpistas do Paraguai, como também para prevenir outras tentativas que
podem estar sendo tramadas no submundo dos derrotados nas urnas e nas
ideias.
*Eronildo Barbosa é doutor em educação e profesor universitário. Email:
EronildoBrasil@hotmail.com.
O Golpe na República do Paraguai
Reviewed by Clemildo Brunet
on
6/26/2012 10:47:00 PM
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