O Crime da Rua da Cruz - Jury de Maria da Conceição
Verneck Abrantes |
Verneck
Abrantes*
O novo livro de Jerdivan
Nóbrega remonta uma Pombal de 1883. A imaginar seus moradores a viver em uma
cidade iluminada a bicos de lamparinas e
lampiões, com cadeiras nas calçadas, silenciosa e tranquila. De poucos
recursos, água de cacimbas transportadas na cabeça de mulheres ou lombos de
jumentos, parte das casas com portas fechadas nos dias da semana para só abrir
nos finais de semanas, quando ocorriam os dias das feiras de ruas, missas,
casamentos, batizados, ou
novenário.
A cidade em sua rotina
imutável estava mais voltada para a zona rural. Na sua conformação urbanística,
as ruas definidas: Rua do Comercio, Rua do Rio, Rua do Giro... Outras em
formação. Eram próximo de 200 casas em seu perímetro urbano. Um pouco distante,
a Rua de Baixo, mais distante ainda, a antiga Rua da Cruz. Denominação essa que
se perdeu no tempo a sua razão de ser. Talvez, em um local ermo, a fixação de
uma cruz perdida em seu espaço por um crime de morte, porque era assim o marco
que se fazia na época.
A Rua da Cruz, não era
propriamente uma rua, mas, um conjunto de casas espaçadas, nem sempre
conjugadas, geralmente de taipa, sem nenhum conforto, simples, igualmente como
as pessoas que ali viviam. Analfabetos,
de poucos recursos financeiros, disponíveis para eventuais trabalhos rurais ou
domésticos. A Rua ficava, aproximadamente, um quilometro do centro da cidade,
aonde se chegava por caminhos de terra batida, passando em meio à vegetação
rala e árvores nativas de médio e grande porte, espaçadas.
Nas chuvas de inverno,
muitos moradores aproveitavam os espaços disponíveis para plantar milho e
feijão, como culturas de subsistência. Local bucólico, no entardecer, caia o
silencio junto com a escuridão da noite.
Foi na síntese desse espaço
que Jerdivan resgatou e traz a luz dos dias de hoje, a história fantástica de
Maria da Conceição. Ela com 26 anos de idade, analfabeta, humilde, mãe
solteira, moradora da Rua da Cruz, julgada, condenada por um crime de
infanticídio, presa na velha Cadeia de Pombal e destino final incerto. Um dos processos mais curiosos da
criminalidade pombalense, por envolver aproximadamente 125 pessoas, entre
tantas, aquelas que compunham a classe social mais alta da cidade.
Também, o livro é um achado
histórico para quem tem interesse em genealogia ou ramificações dos seus
antepassados. Em parte, aqui são evidenciados nomes e sobrenomes dos nossos
ascendentes familiares, em citações a partir de 1883, em meio o inquérito
policial em seu julgamento com ritos, quesito, requisitos, interrogatórios,
despachos, testemunhas, conselho de sentença etc.
Jerdivan Nóbrega, como advogado, deixa um legado importante na sua
área de direito, como escritor, enriquece ainda mais a historiografia
pombalense.
Nós só temos que agradecer a
grandeza do seu trabalho.
*Escritor
e Pesquisador pombalense.
O Crime da Rua da Cruz - Jury de Maria da Conceição
Reviewed by Clemildo Brunet
on
12/27/2012 05:32:00 AM
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