ORIGEM DOS BLACK BLOCS
Severino Coelho Viana |
Por Severino Coelho Viana
No Brasil, o povo despertou o gigante, faltam poucos saírem da cegueira, mas nós vivemos um momento histórico intrigante com a presença desastrosa dos vândalos que estão prejudicando incontrolavelmente as manifestações pacíficas na busca da efetividade de seus direitos que foram conquistados com sangue, suor e lágrima. Alguns estudiosos os comparam aos antigos vândalos. Outros consideram que têm origem nos meados do século XX.
O estudo da origem da tática de protesto e resistência urbana à violência e ao autoritarismo estatal conhecida como “Black Bloc” é de suma importância para a compreensão do papel desses homens e
mulheres de preto que se infiltram sem permissão no meio dos manifestantes e protestos desde os anos da década de 1980. Eles não surgiram a partir das manifestações antiglobalização em 1999, em Seattle, ou das de Gênova, um ano antes. A sua origem é bem mais antiga e remonta aos autonomistas europeus do final dos anos de 1960, que queriam libertar-se da “ganância, violência e da imensa e inumana burocracia estatal”. Só através do estudo de sua história podemos entender por que esses ativistas de preto usam de tanta violência no seio das manifestações no Estado Democrático de Direito, como é o caso do Brasil. Maldade? Ativismo político? Ou tentativa de retirar o povo pacífico do meio da rua?
Os Vândalos foram um povo de origem germânica, naturais da Escandinávia. O nome na língua original era Wandeln. Há algumas incertezas que impedem de afirmar qual era a terra natal de tal povo, porém uma corrente de pesquisadores acredita que o território de origem seria o que hoje chamamos de Noruega. Este argumento fundamenta-se na similaridade do nome da tribo com outros nomes da mesma região.
Os Vândalos subdividiam-se em Silingi e em Hasdingi. Os primeiros habitavam a região da Magna Germânia, enquanto o segundo grupo se deslocou para o sul e entrou em confronto com o Império Romano. Após os conflitos, os Hasdingi estabeleceram-se na região que hoje identificamos como Romênia. No início do século V, os hunos atacaram os territórios ocupados pelos Vândalos que, por sua vez, deslocaram-se para o oeste.
Em meio ao processo de migração, os Vândalos chegaram até três regiões que foram significativas para a sua história. Ao longo da marcha para o oeste, os Vândalos atingiram a margem do Danúbio e alcançaram o rio Reno, onde entraram em combate com os francos. Aproximadamente vinte mil vândalos morreram no choque entre esses dois povos, sendo que os francos só foram derrotados quando os alanos entraram no combate para auxiliar os vândalos. Com o caminho aberto, atravessaram o rio Reno e invadiram a região da Gália saqueando e pilhando o que estava pelo caminho.
Outra região muito marcante na história dos Vândalos foi a Península Ibérica. Esta foi penetrada por tal povo no ano 409 e no local receberam terras dadas pelos romanos. Os Vândalos tiveram um confronto com os Suevos no qual saíram derrotados.
Outra localidade habitada pelos os Vândalos foi o norte do continente africano. Através da construção de uma esquadra naval, eles cruzaram o estreito de Gibraltar e atingiram Cartago, que caiu ao domínio dos Vândalos. A união com os alanos gerou um poderoso reino que foi capaz de conquistar a Sicília, a Sardenha, a Córsega e as Ilhas Baleares.
Em ações ousadas, os Vândalos saquearam Roma durante duas semanas no ano de 455 e foram capazes de resistir ainda a uma frota enviada pelo Império Romano para combatê-los. Mesmo já convertidos também ao cristianismo, os Vândalos ainda tiveram vários conflitos com os romanos por causa de tensões religiosas.
O efetivo declínio dos Vândalos começou com uma crise interna que depôs o rei. Aproveitando-se da situação, Justiniano enviou à África, onde haviam se estabelecido os Vândalos, um corpo expedicionário, que teve apoio dos Ostrogodos e dos povos indígenas africanos, para derrubar o reinado dos Vândalos, sumindo da história em 534.
Atualmente, o termo Vândalo é utilizado para identificar saques bárbaros e destruição, mas a conduta de tal povo não foi diferenciada dos hábitos dos povos antigos que também saquearam Roma, o que torna a utilização relativamente injusta.
Adeptos da estratégia anarquista Black Bloc (bloco negro) estiveram em diversos atos pelo Brasil na recente onda de protestos. Os grupos se caracterizam por usar roupas e máscaras negras cobrindo o rosto, para dificultar a identificação por parte de autoridades. O vestuário também cria uma sensação de conjunto e união entre si.
A ideologia Black Bloc se baseia no questionamento da "ordem vigente". Eles se manifestam contra o capitalismo e à globalização. Suas ações promovem o dano material a fachadas de empresas multinacionais e vidraças de bancos, transportes coletivos e viaturas, por exemplo. Por esse motivo são geralmente associados à violência e depredação. Acabam, na maioria das vezes, entrando em confronto com a polícia.
Para outros, o ativismo Black Bloc tem origem na Alemanha, na década de 1970, e seguidores em diversos países. Não é, entretanto, um movimento de organização única. Em uma mesma manifestação, por exemplo, pode haver grupos distintos, com organização e táticas diferentes. Os Black Blocs têm um berço não anarquista: ele nasceu de um movimento da contracultura que se irradiou da Itália para Alemanha,
Dinamarca, Holanda e outras partes da Europa. As manifestações iniciadas na Itália nos anos de 1970 apresentaram uma novidade: não tinham nenhuma relação com o Partido Comunista, a esquerda partidária ou o movimento sindical, que sempre procuraram sabotar aquele novo coletivo de estudantes independentes, donas de casa e trabalhadores de fábrica não sindicalizados. Era um movimento radical de transformação social de gente não organizada e foi tratado com indiferença e malícia pela esquerda tradicional.
O look inicial Black Bloc na Alemanha incluía capacete de motociclista preto, máscara de esqui, roupa (preta) acolchoada e botas com bico de aço. Aqueles que podiam levavam escudos e cassetetes. A formação Black Bloc conseguiu trazer força e solidariedade para os movimentos radicais na Europa, mas pouco a pouco alguns anarquistas entenderam que a tática já havia dado tudo o que poderia dar. Que a polícia já havia superado o choque inicial de ser recebida a cacetadas e coquetéis molotov. Na Alemanha, pelo menos, das ocupações levadas a efeito pelos autonomistas, de 165 edifícios em 1997 apenas três sobreviveram até o milênio.
As redes sociais e novas realidades em outros continentes ofereceriam novos “fronts” para esta forma de luta urbana solidária anos depois das primeiras críticas dos anarquistas ao Black Bloc feitas antes do desenvolvimento da web. O tempo de mobilização da população popular diminuiu muito e a organização virtual leva o planejamento da ação à sua execução em muito menos tempo. Além disso, novas iniciativas populares de ativismo de mídia em base tecnológica, como a Mídia Ninja, ajudam a criar um novo ambiente de luta e protestos urbanos em que o indivíduo desorganizado, que não faz parte de nenhum partido político ou sindicato, tenha sua voz e sua vez nas ruas.
Por princípio herdado dos seus precursores europeus, muitos dos black blocs desprezam qualquer movimento político organizado, à direita ou à esquerda, o que inclui até os, atualmente em voga, Fora do Eixo e Mídia Ninja. Mas, ao menos no Brasil, o fato de saberem do que não gostam não quer dizer que saibam o que querem. Resta tão só uma indagação: Quem está bancando tudo isso no Brasil?
Segundo dados mais recentes, as ações dos Black blocs já causaram um prejuízo ao Brasil de mais de 130 milhões de reais. Eles não ajudam, só atrapalham! Na verdade, não passam de ameaçadores à democracia e ao Estado democrático de direito.
João Pessoa, 21 de outubro de 2013.
*Escritor pombalense e autor de vários livros é Promotor de Justiça em João Pessoa PB.
scoelho@globo.com
ORIGEM DOS BLACK BLOCS
Reviewed by Clemildo Brunet
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10/22/2013 05:08:00 AM
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