A agonia do jornalismo impresso
João Costa |
João
Costa*
Para sua consideração - Do escritor Fernando
Morais “Não é que o jornalismo está acabando, ele está sofrendo uma mutação
profunda. Isso tem vantagens enormes, que é uma quebra dos monopólios sem dar
um tiro e sem expropriar o jornal de ninguém”, disse recentemente. A seleção na
internet será darwiniana. Uma verdade segue: as novas mídias – os grandes
portais – estarão a serviço de quem paga. A catarse é ver que a Folha de São
Paulo hoje passa por baixo da porta de tão fininho, a Abril demite jornalistas
por andar. 1º andar demitido! 4º também! O Norte desapareceu, deixou viúvas,
mas poucas saudades.
Pessoalmente, só me dei conta da novidade – a força do
jornalismo na internet – quando fui trabalhar pro Walter Santos, no ano da
graça de 2000. Eu, cá na minha estupidez, não dava a mínima para o Wscom.
Valorizava o programa do meio dia e
o da noite na 100.5, também ancorados pelo
WS. Aí, o jogo virou. O portal emergia âncora de tudo. Pautava as redações dos
jornais e, de tantos acessos, caia sempre. Período eleitoral, então...
Mas só me convenci mesmo da força do Wscom como meio de
comunicação, por conta de um crime: o assassinato do prefeito de Santa Luzia,
Itó Morais. Fui despachado por WS para o Vale do Sabugí num domingo de manhã.
Eu e Luluca – o chofer. Fomos direto para o velório e a cena era a seguinte: a
viúva de óculos escuros, e vestida de preto. O silêncio e a dor na casa do
prefeito assassinado numa emboscada. Deixei o velório e fui até a casa do
vice-prefeito, Cesarino; a dificuldade foi apenas atravessar a calçada. Isso, anote
bem, mandando foguetes para o Wscom por telefone, que virava postagens.
Paro na calçada da casa do vice. Uma repórter de TV havia sido
barrada no portão; conseguimos entrar na condição da jovem repórter não fazer imagem
e, eu, não podia fotografar. Ingressei na casa já com o gravador ligado.
Perguntas triviais se seguiram. O telefone do vice-prefeito não parava. No
outro lado da linha – descobri depois – falava o um tal de Ninão, que acabou
preso naquele mesmo dia como contratante dos pistoleiros que emboscaram Itó.
Toda conversa gravada e que foi ao ar na segunda-feira no programa do WS.
Ao sair da casa, considerei que não tinha mais nada a fazer.
Próximo passo, ir até a rádio do então senador Efraim Morais para utilizar um
386 e enviar as matérias apuradas. O badalar das horas: 13.00. Na saída,
avistei na calçada da frente um policial civil, que acenava pra mim. Esse
policial eu conhecera dez anos antes daquele domingo, quando eu já purgava meus
pecados como Editor de Polícia do Correio da Paraíba.
- Fique atento; não saia do meu alcance – me disse.
Fui à rádio, mirei o 386 e mandei as primeiras matérias. A
última a redigir, informava quem estava sob suspeição da polícia e que o Ninão
acabara de ser preso e estava sendo “habilmente” interrogado. Simples: o
governador Zé Maranhão tinha pressa em elucidar o caso. No campo político,
Efraim oscilava entre Cássio e Roberto Paulino. Chegou o final da tarde, início
da noite. Vou comer uma pizza com Luluca. O chofer ia de refrigerante e massas
e eu de uísque – pra variar.
Ao adentrar ao gramado da pizzaria, vejo numa mesa o
vice-prefeito e amigos. Numa outra mesa bem discreta num canto de parede, o tal
policial e “outros”. Luluca pressionava para seguirmos para o hotel, estava
cansado da maratona. Eu também.
- Vai pra onde? Indagou-me o policial.
- Vou pro hotel, tenho um enterro pra ir amanhã; não posso
faltar, respondi.
- Vá dormir agora não. Siga até o colégio, mas lá pelas 10,
disse-me.
Era a senha. Ao chegar ao colégio, já estavam presos o
vice-prefeito e outros suspeitos. Passo tudo por telefone para o WS e vou
dormir. No dia seguinte, antes de seguir para o velório do prefeito
assassinado, Santa Luzia, estava num pandemônio louco. Pela cidade, vi pessoas
com folhas de papel. Por acaso, notei que eram cópias das matérias e estava lá
a logomarca do Wscom. No cortejo até o cemitério, seguiam em silêncio Cássio,
Zé Maranhão e Efraim. E eu na cola. Pessoas ao redor cochichavam sobre o crime,
repercutindo o noticiário do Wscom. De novo, vi uma moça, no cemitério, com um
papel de onde se sobressaía de novo à logomarca do WS. Dizia:- Fulana também é
suspeita do crime.
Assim Caminha a Humanidade!
*João Costa é
radialista, jornalista e diretor de teatro, além de estudioso de assuntos
ligados à Geopolítica. Atualmente, é repórter de Política do Paraíba.com.br
A agonia do jornalismo impresso
Reviewed by Clemildo Brunet
on
6/15/2015 07:45:00 AM
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