Bus stop
Ricardo Ramalho |
Ricardo Ramalho*
Do Ginásio Diocesano de Pombal para o
Colégio Estadual da Prata de Campina Grande. Do Sertão, seco e quente, para o
Brejo, úmido e frio. Na adolescência, começava um novo ciclo de vida, longe da
família, dos amigos, das facilidades da terra onde nasci e vivi, até então. Tudo
era diferente, sobretudo o clima. Afora os primos da casa dos familiares que me
acolheram, ninguém conhecido.
Época
de emoções e domínio absoluto dos hormônios. A denominada música jovem,
ancorada no rock, se impunha. Com ela, os Beatles e
Bus
stop, parada de ônibus, era o nome da música. Que melodia, que arranjos, que
inspiração romântica, embora pueril. Na voz do The Hollies, da Austrália,
alcançava o topo das paradas de sucesso. Logo se ouvia a versão brasileira com
o título “Pensando Nela”, puxada pelos Golden Boys, prática comum naqueles
tempos.
Para
me dirigir ao Colégio, à noite, tomava uma “lotação”, termo que era usado para
os ônibus urbanos da atualidade. Cada viagem, uma aventura, com o transporte
superlotado por estudantes, nos horários das aulas. Ainda, sem me enturmar, não
havia me ligado em qualquer paquera. A mente e o coração estavam presos a
Pombal.
Um
dia chuvoso, como muitos que costumeiramente ocorriam, não houve a última aula
e, assim, segui mais cedo para casa. Escapei do sufoco do final das aulas e
obtive a primazia de ocupar um assento da janela de um ônibus. Numa parada,
observei uma bela garota. Com um guarda chuvas colorido, esperava outra
“lotação”. Olhei para ela e correspondeu no olhar, mais uma vez, outra...
Felizmente, o ônibus demorou na partida, foram segundos de paixão fulminante,
segui pensando nela. Lembrei, imediatamente, da música, Bus stop, e me enlevava
com sua relação ao acontecido. Chuva, parada de ônibus, flagrante, garota e
outros tantos elementos que coincidiam com o enredo da canção.
Procurei
por essa figura em Campina Grande, observando, obsessivamente, os pontos de
ônibus, nos locais comuns de presença da juventude. No passeio da Maciel
Pinheiro, em que os rapazes enfileirados tentavam “paquerar” as moças que,
praticamente, desfilavam em grupos; na missa, da noite, da Catedral, no Cine
Capitólio, no Chopp do Alemão, mas, em vão.
Num dia qualquer, das aulas, encontrei-a
no próprio Colégio, em outra turma. Desta vez, nem olhou pra mim!
Provavelmente, não reconheceu seu fugaz e ardente admirador da Bus stop. Poucos
dias depois, me transferi para o Colégio Agrícola de Jundiaí para estudar
agricultura, minha ansiada vocação profissional e eterna dedicação, em Macaíba,
cidade localizada na periferia de Natal. A garota “quase sonho” ficou na
lembrança.
*Cronista pombalense radicado em Maceió
Alagoas
Bus stop
Reviewed by Clemildo Brunet
on
7/19/2015 06:22:00 PM
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