O menino e o engenho
Onaldo Queiroga |
Onaldo Queiroga*
A Fazenda Nova Acauan, situada no
município de São Domingos foi palco da infância do meu pai. Foi nesse tempo,
que num certo dia, o menino Toinho, o filho caçula de Vicente e Olívia, deitado
sentiu o frio da madrugada se despedir, dando lugar ao calor do sol nascente.
Com o pé na parede, balançava a rede, vendo a luz do sol surgindo lentamente
pela fresta da janela. Ao seu ouvido, chegava o canto forte dos galos que
anunciavam o nascer de um novo dia. Ouvia o barulho dos galhos das árvores, o
movimento da passarada e
o canto mágico dos sabiás, dos galos-de-campina e das rolinhas entoando “fogo pagou”.
Do curral, o som do mugido do gado e o aboio do vaqueiro Vicente Benvindo, que já tangia as reses para a pastagem. Ouviu o barulho da vassoura, nas mãos de Maria Pequena, a varrer o terreiro. Do alpendre, o resmungo de Chicotó. Da cozinha, a voz altiva de sua mãe, Olívia, que avisava: - “A mesa encontra-se posta!”. Vicente, seu pai, na calçada, de posse de um tamborete, encostava-o à parede lateral da casa-grande, para contar lorotas aos moradores. Era mais uma alvorada que invadia a alma do menino. Abençoado pelo céu do sertão, ele levantou, pediu a bênção ao seu pai e dirigiu-se à cozinha. Sentou a mesa e, na companhia de seu irmão Dedé, tomou café, comeu cuscuz e tapioca.
o canto mágico dos sabiás, dos galos-de-campina e das rolinhas entoando “fogo pagou”.
Do curral, o som do mugido do gado e o aboio do vaqueiro Vicente Benvindo, que já tangia as reses para a pastagem. Ouviu o barulho da vassoura, nas mãos de Maria Pequena, a varrer o terreiro. Do alpendre, o resmungo de Chicotó. Da cozinha, a voz altiva de sua mãe, Olívia, que avisava: - “A mesa encontra-se posta!”. Vicente, seu pai, na calçada, de posse de um tamborete, encostava-o à parede lateral da casa-grande, para contar lorotas aos moradores. Era mais uma alvorada que invadia a alma do menino. Abençoado pelo céu do sertão, ele levantou, pediu a bênção ao seu pai e dirigiu-se à cozinha. Sentou a mesa e, na companhia de seu irmão Dedé, tomou café, comeu cuscuz e tapioca.
Do batente da porta da cozinha olhou o
horizonte. Com o irmão seguiu em direção ao engenho. Era tempo de moagem. Era
tempo de colher a cana-de-açúcar, de levá-la à moenda para a produção da
rapadura, do alfenim, da garapa e do seu mel. Quieto assistiu às moendas, puxadas
pelos bois Remanso e Correnteza, moerem as canas. Sentiu o calor da caldeira;
beliscou um pedaço de alfenim puxado por Maria Pequena. Antônio Menano colocou
o caldo da cana-de-açúcar na fornalha. Viu o mestre Biró Machado comandar o
serviço da caldeira em companhia de Zé Cilino. Ele mexia a garapa para lá e
para cá, até identificar o ponto certo para fazer a rapadura. O serviço era
pesado. O calor era intenso. O menino ficou ali por um bom temporariamente a
olhar àquela engrenagem.
O tempo andou e o fez caminhar pela
vida. Enfrentou tristezas e viveu alegrias. O tempo passou e o menino se fez
vetusto. Em solilóquio, questionou: - “O que fizeram com a junta de boi manso?
Na direita, o Remanso. Na esquerda, o Correnteza. Velho engenho! Solitário, tão
esquecido e cansado de moer cana. O tempo quis apagá-lo do meu destino. Mas,
depois de tantos mundos percorridos, movido pela saudade, eu voltei para
espanar a poeira do ocaso e no girar de tuas destemidas moendas vencer contigo
os obstáculos e escrever um novo tempo”.
*Escritor
e Juiz de direito da 5ª Vara Cível em João Pessoa PB
onaldoqueiroga@oi.com.br
O menino e o engenho
Reviewed by Clemildo Brunet
on
7/06/2015 07:59:00 AM
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