VELHICE
Por Severino Coelho Viana
A cronologia normal da vida escalona os degraus existenciais: nascimento, infância, adolescência, juventude, maturidade, senilidade e morte. São as passagens naturais da existência: o início, o meio e o fim. Logo vem o recomeço do estágio probatório na esfera transcendental.
Antes, porém, de adentrarmos no cerne da
nossa mensagem, nós fazemos um parêntese com suporte na Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus, que diz as pessoas mais velhas devem
ser honradas e respeitadas. A sabedoria vem com a idade e com o passar dos anos
aprendemos a ter equilíbrio, assim mostramos: “O cabelo grisalho é uma coroa
de esplendor, e obtém-se mediante uma vida justa. (Provérbios 16;31)”; “Ensina-nos
a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria. (Salmos
90;12)”; “Agora que estou velho, de cabelos brancos, não me abandones, ó Deus,
para que eu possa falar da tua força aos nossos filhos, e do teu poder às
futuras gerações (Salmos 71;18)”.
Outro exemplo nós encontramos na história da
Mesopotâmia. Assim o símbolo da medicina, uma cobra
enrolada num cajado, originou-se na antiga Mesopotâmia há cerca de cinco mil
anos. A água, pela sua importância na vida de animais e vegetais influía na
formação de conceitos de vida e morte. Todas as cidades apenas viviam as
margens de grandes rios. Diversos deuses, como dos cosmos, senhores dos céus,
da terra e da água eram venerados e o homem devia ser servil e obediente. O
pensamento primitivo do homem era mágico e místico. Uma crença de que os deuses
criaram o Céu e a Terra e depois o homem. Este foi feito do barro e misturado
com ar e sangue de um deus morto para este propósito. Esta é a razão da crença
mesopotâmica de que os deuses estavam presentes em todo ser vivo. Os seres
humanos foram feitos para servir aos deuses e aos governantes, venerando-os e
construindo templos. Aqueles que eram obedientes e protegidos e aqueles que
eram desobedientes eram esquecidos, acometidos de doenças. A magia era a
principal medida terapêutica, a qual também era utilizada para a obtenção de
chuva para a colheita. Após o domínio dos assírios e babilônicos sobre a
Mesopotâmia, os costumes, leis e doutrinas dos sumérios foram adotadas na
região. A cidade da Babilônia tornou-se o centro de cultos religiosos que
atribuíam poder a tríade Água, Terra e Céu. O deus mais antigo eram Sin, o qual
cuidava do crescimento de ervas curativas, as quais não deviam ser expostas ao
sol.
De outro lado histórico, nós concebemos que a
China proporcionou aos velhos uma condição singularmente privilegiada. A
qualificação e a responsabilidade das pessoas aumentavam com os anos e no cume
encontravam-se os idosos. Essa posição elevada refletia na família, sendo,
pois, que toda casa devia obediência ao homem mais idoso e, sua autoridade, não
diminuía com a idade. Confúcio - (551 a.C. 479 a. C.) – justificava moralmente
essa autoridade associando velhice à posse da sabedoria. Na literatura chinesa
a velhice nunca é denunciada como um flagelo.
Não podemos esquecer no Hinduísmo da existência
da divindade de Yama, deus da morte, primeiro registro feito nos
Vedas. ... Na tradição védicaYama foi considerado ser o primeiro mortal
que morreu e espiou o caminho para a morada celestial, e, em virtude da sua
precedência, ele tornou-se o regente dos mortos, nenhum outro personagem védico tenha
sofrido tantas transformações no tempo dos Puranas. No Rig Veda, Yama é o filho
de Saranyu (filha de Tvashta, o deus-artesão) e Vivasvant (associado com o sol).
Em trechos diferentes do Rig Veda, Yama é o
homem primordial. Sua irmã gêmea, Yami, o chama de “o único mortal” em um
diálogo do Rig Veda, em que o incita a cometer incesto com ela. Em sua
integridade, Yama rejeita os pecaminosos avanços da irmã. Ele afirma: “Os
deuses estão sempre vigiando nossas ações e devem punir os pecadores”.
Na mitologia grega Geras
é o daemon
que personificava a velhice tida
como a parceira e o prelúdio inevitável de Tânato, a morte. Seu oposto, claro,
foi Hebe, a juventude. Na Grécia Antiga
não se verifica uma unidade de tratamento para com os mais velhos. Pode-se
dizer que a velhice era mesmo uma etapa da vida temida pelos gregos,
principalmente pela civilização helênica, onde o vigor característico da
juventude era muito valorizado. Seu equivalente na mitologia
romana era Senectus. Quanto à velhice, triste divindade, é filha
de Érebo e da Noite. Tinha um templo em Atenas e outro em Cádis. Simbolizada
sob a figura de uma velha mulher, coberta de uma túnica negra ou de cor de
folhas mortas. Na mão direita, segura uma taça e com a esquerda apoia-se sobre
um bastão. A seu lado, coloca-se muitas vezes uma clepsidra quase esgotada.
Representava como um homem encolhido e arrugado, e posteriormente como uma
triste mulher apoiada em um báculo e com uma copa que olha a um poço onde há um
relógio de areia, alegoria do pouco tempo que lhe fica de vida. Algumas
vasilhas do século V a. C. mostram uma cena de Geras com Héracles. Ao perder-se
o relato que pretendiam plasmar se interpretou como uma alegoria da vitória do
herói sobre a velhice (Heracles morreu jovem e se casou com Hebe) nas vasilhas nas que se lhe pintava
manifestamente superior a Geras e inclusive amostra dos cabelos; ou como uma
tentativa de que o herói de conhecer que já era um velho (em uma vasilha na que
ambos aparecem falando em posição de igualdade).
Inegavelmente, na sociedade brasileira, salvo
algumas exceções, há uma tendência de rejeição e preconceito à velhice,
deixando o idoso à margem social, no seio familiar, por determinantes
culturais, mercado de trabalho e por falta de ações afirmativas que permitam um
envelhecimento participativo no Brasil. A negligência é a omissão por
familiares ou instituições responsáveis pelos cuidados básicos para o
desenvolvimento físico, emocional e social do idoso, tais como privação de
medicamento, descuido com a higiene e a saúde, ausência de proteção contra o
frio e o calor. O abandono é uma forma extrema de negligência.
Se nós queremos bem aos nossos pais, adoramos
aos nossos avós e amamos a Deus por que rejeitar um ente igual à imagem e
semelhança de Deus somente por causa da idade? Então, no futuro, se chegar a
tal ponto, você terá preconceito de si próprio e esquece que Deus é o ser mais
idoso que existe no universo!
João Pessoa, 30 de agosto de 2020.
2 comentários
Publicação muito interessante. Pois realmente, os idosos são rejeitados, deixandos de lado como se fossem peças de uma engrenagem, e que as mesmas não servem mais. Infelizmente acontece isso com os idosos. Então o que as instituições, os governos poderiam fazer para amenizar essa situação? Eles acham que a aposentadoria resolve tudo. Mas bem sabemos que não. Então nobre escritor Severino Coelho suas palavras são oportunas em alertar para esse fato real da velhice. Parabéns pelo artigo.
Atenciosamente,
Carlos Martins
Publicação muito interessante. Pois realmente, os idosos são rejeitados, deixandos de lado como se fossem peças de uma engrenagem, e que as mesmas não servem mais. Infelizmente acontece isso com os idosos. Então o que as instituições, os governos poderiam fazer para amenizar essa situação? Eles acham que a aposentadoria resolve tudo. Mas bem sabemos que não. Então nobre escritor Severino Coelho suas palavras são oportunas em alertar para esse fato real da velhice. Parabéns pelo artigo.
Atenciosamente,
Carlos Martins
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