LÍDER DA IRMANDADE DOS NEGROS DO ROSÁRIO DE POMBAL AMEAÇA NÃO PARTICIPAR DA FESTA

JERDIVAN NÓBREGA DE RAÚJO*

Edmilson Nery, líder da IRMANDADE DOS NEGROS DO ROSÁRIO DE POMBAL surpreendeu a cidade há menos de 30 dias do evento, ao informar que este ano ele e quem o acompanhar dentro dos quatro grupos, NEGROS DOS ESPONTÕES, CONGOS, REIZADO e a própria IRMANDADE, estão fora da organização e participação da Festa do Rosário deste ano, podendo voltar em 2020.

Inusitado é o motivo apresentado por Edmilson Nery para tomar tão inesperada decisão, fato que nunca aconteceu nos seus últimos 138 anos de existência comprovada.

O motivo, segundo Edmilson Nery, foi que o Conselho (nomes dos membros não revelado, mas tenho certeza que não tem ali nenhum representante dos Negros do Rosário) acusá-lo de apropriação dos valores da coleta. E se aconteceu como ele relatou em entrevista à emissora de rádio da cidade, o absurdo toma proporções criminosas.

Relata o Edmilson que foi chamado em uma sala da igreja para apesentar a prestação de contas dos valores coletados pela IRMANDADE DOS NEGROS ROSÁRIO, e ao sair da sala onde havia prestado conta, já na nave principal da Igreja, foi interceptado por um membro do dito Conselho, que o convocou para voltar a sala e, diante de uma câmara devidamente posicionada, de forma humilhante e criminosa, fora obrigado a esvaziar a sua pasta para saber se ele estava se apropriando de valores coletas.

Edmilson Nery se revoltou com tal atitude, é claro, mas com a certeza da sua honestidade procede como determinado pela mesa de inquisidores mediáveis. Esvaziada a sua pasta nela nada fora: havia ali apenas seus objetos pessoais.

Em meio a tudo isto, em entrevista à Rádio liberdade, Edmilson dá a Informação que fora premiado com valor de R$ 10.000,00 e que utilizara a premiação para adquiri vestes e pagar dívidas do grupo.

Inconformado, ele ainda externou a sua revolta dizendo que os membros dos Negros do Pontões que moram nos sítios nunca foram agraciados por tal Conselho com mísero “caneco d´agua”.

Ora, a Irmandade dos Negros do Rosário de Pombal não tem sequer a obrigação de fazer prestação de contas a este “Conselho’. A irmandade é uma organização independente, regida por dois estatutos: Um Civil e outro Eclesiásticos, e os dois garantem a independência financeira e administrava do grupo.

Eu não fiquei nenhum pouco surpreso com esse ato criminoso do “Conselho Administrativo”, o qual foi criado pelo padre Ernaldo, em 2003. Quem leu o meu livro “IRMANDADE DOS NEGROS DO REOSARIO DE POMBAL” sabe do que estou falando

Para finalizar transcrevo do livro acima citado (pág. 81/ 82), o momento em que eu falo desse Conselho e dos problemas que eu já estava causando a Irmandade desde o momento da sua criação.

Trata-se de transcrição da Ata da Sessão do dia 10 de agosto de 2003: Vejamos:

“Na reunião do dia 10 de agosto de 2003, o tesoureiro cobra do padre Ernaldo José de Sousa o pagamento dos fogos da festa, ainda do ano anterior, que até aquela data não haviam sido pagos ao fornecedor.

O Padre Ernaldo José de Sousa, demonstrando total desconhecimento da história da Irmandade dos Negros Rosário de Pombal, comete o equívoco de criar um “Conselho Administrativo” para tratar dos assuntos da Confraria, mais notadamente dos que envolvem o dinheiro das arrecadações de esmolas, ignorando que a entidade tem seus próprios estatutos, e que nele há pormenorizado todas as atividades do Juiz e do Tesoureiro.

O registro em ata é documentado da seguinte forma:

Padre, até novembro do ano passado eu ainda devia os fogos. O Padre por sua vez nos falou que todo o dinheiro arrecadado terá que ser entregue ao tesoureiro do Conselho e que a Irmandade tem que fazer uma previsão dos gastos e buscar ajuda para tal ( Ata da Sessão do dia 10 de agosto de 2003)

Escrivão conclui com a seguinte anotação, em ata:

Porém a Irmandade está viva, afirmei dizendo que temos tesoureiro e o padre voltou a persistir na superioridade do Conselho. O tesoureiro José Lópes informou que o ano passado todo o dinheiro foi entregue ao tesoureiro do “Conselho”. Logo não tivemos condições de gratificar os ajudantes da festa. ( Ata da Sessão do dia 10 de agosto de 2003)

Não concordo com a ausência dos grupos no evento: A Festa foi por eles criada e é graças a eles que atravessou os séculos, como mais um exemplo da resistência dos negros desse pais as perseguições, também seculares, as quais eles são submetidos. Mas, não devo também deixar de apoiar o grupo, em nome do Edmilson Nery, e dizer que essa sua revolta veio tarde, mas, como dizem por aí: Antes tarde do que nunca.